quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Avô *


cada vez que me lembro de ti, choro. todas as noites tenho medo de adormecer, por ter ainda mais medo de acordar e receber uma má notícia. cada vez que o telefone toca, o meu coração pára, fico paralisada. que será de mim quando o dia chegar? o meu mundo vai desabar, vou cair no chão e dificilmente me voltarei a levantar. custa-me estar distante de ti, mas também me custa estar perto e ver como estás a sofrer. o teu sorriso, as tuas brincadeiras, a tua alegria, os teus sermões, a tua rabugice, o teu mau feitio.. tudo isso se perdeu nestes 2 anos e tal. tenho saudades de chegar a casa e te ver sentado no quintal, receber o teu "boa tarde" com um sorriso nos lábios. e eu amava tanto o teu sorriso.. ninguém é eterno, mas porquê a ti? tu que estavas sempre disposto a ajudar quem fosse preciso, tu que me educaste e nunca deixaste que nada me faltasse.. quem me vai contar histórias à hora das refeições? sou egoísta, não te posso perder. não suporto essa ideia.. sei que quando partires parte de mim vai partir contigo. sei que apenas irei conseguir entrar em casa por causa da avó. porque também ela vai sofrer muito e precisar de todo o apoio. restamos-lhe nós, dois netos e um filho. e tu avô, és o meu grande orgulho! foste e continuas a ser um homem com "H" grande, com um coração de ouro, com um amor incondicional pelos netos. sei que te custa não nos teres perto de ti todos os dias, a nós também custa. a vida levou um rumo que ninguém esperava. mas uma coisa te posso garantir: vamos sempre amar-te e por mais que nos custe, vamos lembrar-nos de ti sempre com um sorriso no rosto. és grande, avô!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Aprender a amar - Parte IV


Assim que chegámos a casa a mãe enfiou-se na cozinha e eu fui ligar à Débora. Vem cá passar esta noite comigo e amanhã vamos passear por aí. Contei-lhe que desde que pus novamente os pés naquele jardim o Carlos não me sai da cabeça, esperei que me desse algum bom conselho. Mas não, apenas me disse: "Liga-lhe de uma vez por todas", será que ela ainda não entendeu que ele segui com a vida dele? E eu tenho de fazer o mesmo. Tem custado muito, nunca ninguém disse que esquecer um amor seria fácil. Sempre pensei que não iria sofrer de grandes males de amores, pelos vistos enganei-me até ao dia em que o perdi. Enfim...
- Filha, vem aqui por favor. Preciso da tua ajuda.
- Vou já mãe.

Entretemo-nos as duas a preparar o jantar, hoje foi mais "pimpão", afinal a Débora veio jantar connosco. Embora seja presença assídua da casa, não deixa de ser uma convidada.
Correu tudo às mil maravilhas. Quando terminámos, ajudei a mãe a arrumar a cozinha enquanto o meu pai, o meu irmão e a Débora foram agarrar-se à Playstation. Agora vamos as duas beber café e apanhar um pouco de ar. Desta vez é ela que não me parece estar muito bem, por isso, vou aproveitar para lhe perguntar o que se passa e evitar que a mãe fique preocupada também com ela.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Aprender a amar - Parte III


Acordei bem disposta, algo que não acontecia há algumas semanas. Vou dar um passeio com a mãe pelo shopping, ela está a arranjar-se e, por isso, vim até ao jardim em frente da nossa casa. Agora que cá estou arrependo-me. Aqui passei muitos momentos com o Carlos, relembrá-los ainda me custa. Ao contrário do que pensam, ser forte não é pêra doce. Não são só os fracos que erram, que caem e que se magoam. Aos fortes também acontece isso, eles apenas têm uma maneira diferente de lidar com as situações. Espero que a mãe se despache, porque enquanto aqui estiver vou ver o Carlos em cada banco, em cada pedaço de relva...

Acabámos de nos sentar numa mesa no shopping.
- Então meu amor, diz-me lá o que querias falar com a mãe.
- Ai mãe, nem sei por onde começar... Sabes que apesar de me ter erguido e andar melhorzinha ainda amo muito o Carlos e penso imenso nele, não sabes?
- Sim, sei...
- E sabes que ele tem uma namorada nova, não sabes?
- Não, não sei...
- Então, mas sabes que passámos muitos momentos nos jardim em frente à nossa casa e que à pouco enquanto te esperava via-o em cada canto, não sabes?
- Não sei, mas calculo... Onde queres chegar com esta conversa toda?
- Oh mãe, já não sei mais que fazer longe dele. Embora pareça forte, sinto-me cada vez mais fraca. E sei que só tu és capaz de compreender o que se passa comigo e me ajudar.
Comecei a chorar, a mãe não teve outra reacção senão chegar-se mais perto de mim e abraçar-me. Acabou por fazer pior, pois ainda comecei a chorar mais. Foi difícil parar, confesso. Mas a mãe lá me deu alguns conselhos preciosos e conseguiu fazer nascer um sorriso. Sem ela acho que não seria capaz de enfrentar o mundo...
A tarde passou a correr, quando olhamos para o relógio são quase 19h. Corremos para casa, se o pai e o mano chegam sem terem o jantar pronto, há festa da grossa. E nem eu, nem a mãe estamos com paciência para tal.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Feitiço "nunca serás feliz"


Mais uma vez dei por mim fechada no meu quarto escuro, deitada na minha cama vazia, com os fones nos ouvidos, agarrada à minha almofada, a chorar. A chorar tanto como uma criança quando alguém lhe tira o seu brinquedo preferido. Senti o meu mundo desabafar, as lágrimas escorriam-me pela face deixando-a molhada, senti-as por fim nos meus lábios, salgadas... Queria parar, não conseguia. Era quase como se as lágrimas se sincronizassem com a música e caíssem mais e mais. Limpei-as tantas vezes, em vão, voltaram a cair sempre. Pensei muitas vezes: "Foda-se, mas estou aqui a chorar porquê? Tenho que me erguer, sorrir e mostrar a toda a gente o quão forte sou. Pode doer, posso estar a sofrer, posso até estar a morrer. Mas ninguém precisa de saber", voltava a limpar as lágrimas e sentava-me na beira da cama. Mas a música, as lembranças... A maldita música e as terríveis lembranças desabavam com aquela força e aquele positivismo outra vez. Bolas, estou mesmo farta disto! Alguma bruxa me terá visto quando nasci? Como aquelas dos filmes da Disney que lançam aqueles feitiços "impossíveis". Se calhar, alguma saiu de uma história e lançou-me o feitiço de "nunca ser feliz". Já nem digo coisa com coisa, triste vida. Com isto, quero tentar ganhar uma nova força diferente. Que faça com que amanhã não dê comigo novamente no meu quarto escuro, deitada na minha cama vazia, com os fones nos ouvidos e agarrada à minha almofada a chorar.