domingo, 3 de julho de 2011

6 # Carta para um estranho

Meu querido amigo, o que te levou a esta situação miserável? O que me leva a mim à mesma situação que tu?
Vives bem aí onde te encontras? Não consegues dormir todos os dias no mesmo sítio, pois não?
Um noite debaixo de umas arcadas, outra nas escadas de uma estação do metro, outra à porta de uma loja; outra noite e outra noite... Todas elas diferentes, mas no fundo todas elas iguais.
Quando chegar a essa situação, posso ficar sempre do teu lado? Podemos ser o abrigo um do outro?
Há quanto tempo não tomas banho e mudas de roupa? Há quanto tempo não comes uma boa refeição?
A tua família, procura-te? Sabe da situação em que te encontras? E se quiserem que voltes, voltas?
Como consegues suportar os olhares de lado e os comentários de nojo? Como consegues suportar a dor quando pedes uma moeda para te alimentares e te recusam?
Pessoas frias, tristes e sem coração... Vais erguer-te, mais cedo ou mais tarde, vais ser o herói aos olhos de todas essas pessoas que até hoje te recusaram uma mão amiga.
Meu querido, grande e pobre amigo, dá-me a mão para te ajudar a sair desse mundo de miséria. Entro para ele também, se assim for preciso...
Não te deixo sozinho na miséria, és humano, tens um grande coração e sentimentos reais. Não quero que faças parte desta paisagem triste de Lisboa, já fizeste parte dela tempo demais.

Meu querido amigo...

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